A FACE OCULTA DO ANIQUILACIONISMO
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- Salvo outra indicação, a versão da Bíblia utilizada é a Tradução do Novo Mundo de 1986.

- Os negritos e colchetes das citações feitas foram acrescentados.

SUMÁRIO

1. A referência segura: ‘Deus não nos fez para que sejamos aniquilados’

2. O aniquilacionismo materialista

3. O aniquilacionismo antigo

4. Conclusão

 

Fortaleza, 19 de abril de 2020

Email do autor para contato: fadelmo@gmail.com

 

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A referência segura: ‘Deus não nos fez para que sejamos aniquilados’

Uma maneira eficaz de determinar ou confirmar o sentido correto de diversos versículos da Bíblia é averiguar como eles eram compreendidos por autores contemporâneos dos escritores bíblicos, ou de uma época próxima da deles. Isto pode ser feito, por exemplo, com o que os apóstolos Pedro e Paulo disseram a respeito de suas mortes então futuras:

“É justo despertar-vos com as minhas admoestações, enquanto estou nesta tenda* terrena [o corpo], sabendo que em breve hei de despojar-me dela... Assim farei tudo para que, depois da minha partida, vos lembreis sempre delas”. – 2 Pedro 1:13-15, Bíblia de Jerusalém.

“Sinto-me num dilema: meu desejo é partir e ir estar com Cristo, pois isso me é muito melhor, mas o permanecer na carne é mais necessário por vossa causa”. – Filipenses 1:21-23, Bíblia de Jerusalém.

* “Tenda”, ou "tabernáculo", refere-se ao corpo físico, como atestam diversos comentaristas bíblicos. E a palavra “partida”, logo depois, é a tradução do grego exodon, que significa “êxodo”. Ela denota que Pedro se referia a uma mudança de domicílio, tal como o Êxodo dos antigos hebreus.

Nota-se que Pedro disse que se mudaria para outro lugar, quando deixasse o corpo para trás depois da morte. O mesmo escreveu Paulo, que anelava tal mudança, porém não queria deixar os irmãos na fé enfrentando as dificuldades do mundo sozinhos, ao passo que ele estaria com Cristo. Esses versículos são em si muito claros. No entanto, visto que hoje em dia há pessoas que não aceitam o que eles estão dizendo (os aniquilacionistas) e buscam interpretações peculiares para entendê-los, pode-se fazer a verificação supramencionada para saber se essas passagens realmente dizem o que elas estão dizendo.

Depois que os apóstolos já tinham falecido, um escritor cristão do primeiro século que os conheceu pessoalmente disse o seguinte:

“Tomemos os exemplos nobres fornecidos em nossa própria geração... Coloquemos diante dos nossos olhos os ilustres apóstolos. Pedro, por causa de inveja injusta, não suportou nem um nem dois, mas muitos labores, e quando, por fim, sofreu o martírio, partiu para o lugar de glória que lhe era devido. Por causa da inveja, Paulo também obteve a recompensa da perseverança, depois de ter sido sete vezes lançado em cativeiro, obrigado a fugir e apedrejado... Depois de pregar tanto no Oriente como no Ocidente... e sofrido o martírio sob os magistrados. Assim foi removido do mundo, e entrou no lugar santo, tendo provado ser um exemplo impressionante de paciência”. – Carta aos Coríntios, Clemente de Roma, cap. 5, c. 96 d.C.

Clemente, que foi bispo de Roma, confirmou precisamente o que os dois apóstolos tinham dito em vida (na Terra). Só que quando o trecho acima foi escrito, já não era uma mera expectativa dos apóstolos. Tinha se tornado realidade. Confirmando assim o que vários textos do Novo Testamento dizem com respeito aos cristãos que falecem, a saber, que Deus os resgata imediatamente do Hades e os leva para os céus antes mesmo da futura ressurreição geral dos mortos. – Lucas 16:19-31; 20:37, 38; 23:43; João 11:26; Apocalipse 20:4.

Algumas décadas depois, o mesmo entendimento foi mencionado por um autor cristão do século II:

“Mas como sabemos que Deus é testemunha do que pensamos... estamos convencidos de que quando formos removidos da vida atual viveremos outra vida melhor do que a presente, e celestial... livres de toda mudança ou sofrimento na alma, não como carne... mas como espíritos celestiais... porque Deus não nos fez como ovelhas ou animais de carga... para que sejamos perecíveis e aniquilados”. – Um apelo em favor dos cristãos, Atenágoras de Atenas, cap. 31.

O acima resumido era o ensino da igreja primitiva sobre o que acontece depois da morte.

 

O aniquilacionismo materialista

Uma vez confirmado o que os primeiros cristãos ensinavam sobre a morte (mais detalhes no link), agora resta comparar com o que os aniquilacionistas dizem. Mas o que é o aniquilacionismo? Um de seus representantes responde:

“Uma vez que o destino de pelo menos um aspecto [do ser humano] – o ‘corpo’ – é bem conhecido, a saber, a desintegração (e por fim a inexistência), deveria ser óbvio que o destino dos demais aspectos [alma e espírito] é o mesmo... Isto é, de fato, o que a maioria dos condicionalistas acredita, com base em seu entendimento da natureza dos seres humanos... Segundo este conceito [imortalidade condicional], Deus vai levantar pessoas inteiras de um estado de morte para um estado de imortalidade, desde que, nesta vida, a ‘condição’ (fé em Cristo como Senhor e Salvador) tenha sido satisfeita. Aqueles que não creem em Cristo serão punidos com a ‘segunda’ – ou final – morte: a destruição completa da pessoa inteira, ou ‘alma’... Embora muitos condicionalistas não gostem da palavra ‘aniquilação’, esta palavra descreve com precisão o que eles acreditam que será o destino final dos que não se arrependerem de seus pecados – nesta vida...”. – A Doutrina da Imortalidade na Igreja Primitiva (2015), de John Roller, p. 7.

As declarações a seguir, publicadas por outra fonte aniquilacionista, completam o panorama:

Coerentemente, a Bíblia fala da morte como sendo o oposto da vida, isto é, a inexistência em contraste com a existência”. – Despertai!, 08/06/94, p. 10; Detalhe: em parte alguma a Bíblia diz isso...

“Quando o coração cessa de pulsar, o sangue cessa de circular a nutrição e o oxigênio (proveniente da respiração) para as células do corpo. Todavia, as células não perecem de imediato. É por isso que é possível reavivar algumas pessoas cuja respiração e batimentos cardíacos tenham cessado. A morte absoluta advém com o desaparecimento da força de vida, ou espírito de vida, das células corpóreas. - Sal. 104:29”. – Despertai!, 08/09/80, p. 10.

O Salmo mencionado no final da citação acima fala a respeito dos seres que vivem na Terra, inclusive as criaturas aquáticas, que se alimentam do que o planeta produz e depois morrem. O versículo indicado e o que vem depois dizem o seguinte:

“Se escondes a tua face, ficam perturbados. Se lhes tiras o espírito, expiram e retornam ao seu pó. Se envias teu espírito, são criados; e fazes nova a face do solo”. – Salmo 104:29, 30.

Como se vê, os autores da “Despertai!” atribuíram ao espírito mencionado uma concepção materialista, como se ele fosse o mecanismo de funcionamento das células corpóreas. Mas esta é uma conclusão não presente nos versículos. O que se pode notar neles é algo de natureza espiritual, pois mencionam um espírito que é tirado e outro que é enviado, denotando assim um movimento de energia. O primeiro resulta em morte, e o segundo cria a vida. Definitivamente esta não é uma linguagem materialista!

Nota-se, portanto, que o aniquilacionismo se apropria daquele conceito da ciência, comumente ateu, sobre a vida biológica, segundo o qual a pessoa que vive tem apenas a natureza material, orgânica, regida pelas leis naturais, não possuindo nada de alma ou espírito dentro do corpo, aspectos vislumbrados apenas pela religião e a filosofia. Sendo assim, o aniquilacionismo criou uma espécie de “Frankenstein”, juntando conceitos religiosos com científicos. E em seguida o carimbou de “ensino cristão”. Na prática, ele significa o seguinte: quando o ser humano morre, ele desaparece integralmente e nada dele sobrevive à morte. Não há uma alma invisível que possa ser levada para outro lugar. Apenas um milagre de Deus poderá recriar a pessoa que morreu em um futuro indeterminado (veja no link como se daria tal processo).

De maneira consciente ou não, o que os aniquilacionistas realmente fizeram foi criar um materialismo “cristão”, pois importaram da ciência uma ideia materialista (não religiosa) e substituíram o acaso por Deus, e com isso trouxeram todo o vocabulário bíblico para dentro de uma crença que é estranha ao ensino deixado pelos apóstolos. Essa combinação é algo inédito na história do Cristianismo, já que o materialismo sempre esteve ligado ao ateísmo, como se vê nas referências a seguir:

“Pois ou a morte é a total extinção da vida, a alma sendo dissolvida e corrompida junto com o corpo, ou a alma permanece por si mesma, incapaz de dissolução, de dispersão, de corrupção, enquanto o corpo é corrompido e dissolvido... Se a vida dos homens deve ser completamente extinguida, significa que não haverá cuidado para os homens que não vivem e nenhum julgamento sobre aqueles que viveram na virtude ou no vício, mas voltará a correr sobre nós tudo o que pertence a uma vida sem lei e o enxame de absurdos que dela derivam, sendo o ápice desta iniquidade o ateísmo”. – Sobre a ressurreição dos mortos, Atenágoras de Atenas, cap. 20, c. 170 d.C.

“[Materialismo é] a doutrina que sustenta que o princípio de pensamento no homem... resulta da mera matéria, ou em uma faculdade decorrente de sua organização”. – A Biblical and Theological Dictionary (1833), de Richard Watson, p. 626.

“Conforme o próprio significado da palavra, Materialismo é o sistema filosófico segundo o qual a matéria é a única realidade no mundo, responsável por explicar cada evento no universo como sendo resultado das condições e atividades da matéria, e que assim nega a existência de Deus e da alma. É diametralmente oposto ao Espiritualismo e o Idealismo, os quais, e no que tange a isso eles são unilaterais e exclusivos, declaram que cada coisa no mundo é espiritual, e que o mundo e até a matéria são em si concepções ou ideias no campo do pensamento”. – Enciclopédia Católica, versão on line, verbete “Materialismo”.

Por este enfoque, o aniquilacionismo materialista seria então uma forma de ateísmo, mesmo que seus defensores não se apercebam disso e por mais que eles tenham tentado “cristianizar” o que defendem.

 

O aniquilacionismo antigo

Há um detalhe importante que precisa ser esclarecido. Esse entendimento de que o homem não possui uma alma espiritual que sobrevive à morte do corpo, e que é comumente chamado de “aniquilacionismo”, na verdade nasceu na Idade Moderna e se disseminou depois da Reforma Protestante. Na Antiguidade havia um aniquilacionismo, igualmente combatido pela igreja, porém ele era bem diferente desse atual, que é inspirado na ciência contemporânea. Nessa época os aniquilacionistas acreditavam que uma alma sobrevive à morte do corpo. O que eles negavam é que os maus seriam atormentados para sempre no inferno, pois criam que as almas dos ímpios seriam simplesmente destruídas. Essa é a razão porque se optou chamar o aniquilacionismo da seção anterior de “aniquilacionismo materialista”, pois esta expressão fica mais de acordo com o que ele realmente é. Trata-se de outro tipo de aniquilacionismo.

Não é de admirar que a crença na sobrevivência imediata da alma após a morte fosse praticamente universal, pois o sentimento mais presente nos tempos antigos era esse abaixo descrito, e que está refletido na própria Bíblia, ainda que de forma bem menos intensa quando comparada aos escritos gregos, por exemplo:

“Não obstante a horrível evidência da decomposição física causada pela morte, tem persistido a crença de que algo da pessoa individual sobrevive à tal experiência. Em contraste, a ideia da extinção pessoal devido à morte é um conceito sofisticado que era desconhecido até o 6º século antes de Cristo, quando apareceu no pensamento metafísico do Budismo indiano; ele não encontrou expressão no antigo Mediterrâneo antes de sua exposição pelo filósofo grego Epicuro (341-270 a.C.)”. – Enciclopédia Britânica (2015), versão on line, verbete “Ritos fúnebres”.

Inclusive o próprio apóstolo Paulo fez alusão à postura dos seguidores de Epicuro, ao citar o lema de vida deles:

“Senão, que farão os que estão sendo batizados com o objetivo de serem mortos? Se os mortos absolutamente não hão de ser levantados...?  Por que estamos também cada hora em perigo? Eu enfrento a morte diariamente... Se eu, igual aos homens, tenho lutado com feras em Éfeso, que me aproveita isso? Se os mortos não hão de ser levantados, ‘comamos e bebamos, pois amanhã morreremos’ [como dizem os epicureus].” – 1 Coríntios 15:29-32.

Como foi explicado por Jesus, os mortos só podem ser “levantados” porque eles continuam vivos na realidade espiritual de Deus (Lucas 20:37, 38). Depois da morte, há uma contraparte do ser humano que é preservada em outro local: a alma. Por isso Jesus disse adicionalmente que os homens conseguem matar apenas o corpo de uma pessoa, mas não a sua alma (Mateus 10:28). O “levantar” da ressurreição é tão somente trazer a alma de volta para este mundo e dar-lhe novamente um corpo físico, conforme foi explicado pelos sucessores dos apóstolos na literatura patrística, a exemplo deste aqui:

“E ninguém ache estranho que chamemos pelo nome de vida a continuação do ser que é interrompida pela morte... os homens, em relação à alma, têm de sua primeira origem uma continuidade imutável, mas em relação ao corpo obtêm imortalidade por meio da mudança. É o que se entende por doutrina da ressurreição... não colocando a nossa morte em um nível semelhante à morte dos animais irracionais... Mas não é porque sabemos que a separação da alma dos membros do corpo e a dissolução das suas partes não interrompem a continuidade da vida que devemos desanimar da ressurreição... porque não se pode dizer que o homem existe quando o corpo é dissolvido... embora a alma continue por si mesma... deve haver uma ressurreição dos corpos mortos... uma vez que a lei da natureza ordena o fim não de modo absoluto... Mas é impossível que os mesmos homens sejam reconstituídos a menos que os mesmos corpos sejam restaurados às mesmas almas”. – Sobre a ressurreição dos mortos, Atenágoras de Atenas, caps. 16 e 25, c. 170 d.C.

E como foi sintetizado na primeira seção, em nenhum lugar da Bíblia é dito que a morte significa a própria inexistência. Muito pelo contrário. São vários os versículos bíblicos que mostram a continuidade da vida após a morte para os que têm fé, ou então uma existência sombria de provações para os que não têm (no Hades). As passagens bíblicas utilizadas para tentar justificar o conceito aniquilacionista materialista são apenas declarações tiradas do contexto global da Sagrada Escritura, que são lidas com uma disposição mental muito distante do que motivou seus antigos autores (todos judeus).

Você talvez esteja se perguntando porque pessoas que acreditavam que a alma permanece viva depois da morte eram consideradas “aniquilacionistas”. É porque a ortodoxia cristã considera aniquilacionistas todos aqueles que rejeitam o ensino de que as almas dos maus sofrerão eternamente na Geena espiritual e, ao invés disso, preferem acreditar que elas serão destruídas. É um aniquilacionismo em sentido amplo. Este conceito entrava em conflito com a ideia vigente da igreja primitiva. E ele surgiu logo cedo na história do Cristianismo.

 

Em suma, o que foi mesmo questionado nos séculos iniciais não é se a alma permanece viva depois da morte, mas sim o que acontece com ela depois do Julgamento Final de Deus. A seita gnóstica dos Valentinianos* provavelmente foi o primeiro grupo de origem cristã que assumiu posição contrária à crença no tormento eterno. Para eles as almas dos iníquos seriam destruídas e não atormentadas. Mas visto que os gnósticos nunca foram considerados verdadeiros cristãos pela igreja primitiva, devido ao alerta que há em 1 João 4:3, o ponto de vista deles tem sido desconsiderado.

 

* Os Valentinianos surgiram a partir dos ensinamentos de um mestre gnóstico chamado Valentino, que por volta de 137 d.C. começou a lecionar em escolas do Egito e Chipre. Depois ele se mudou para Roma, onde foi considerado um possível candidato ao cargo de bispo da cidade, que hoje é chamado de “Papa”. Mas visto que ele se desviou da igreja, essa possibilidade foi descartada. Ele permaneceu em Roma até 166.

 

Arnóbio de Sica foi o primeiro escritor considerado cristão que apresentou o entendimento de que os ímpios não sofrerão para sempre, mas que serão aniquilados. Sobre a morte e o destino final das almas, aproximadamente em 320 d.C., ele disse:

“Mas qual homem não percebe que aquilo que é imortal, o que é [algo] simples [de se notar], não pode ser objeto de nenhuma dor? Que o que sofre dor, ao contrário, não pode ser imortal?... Porque eles são banidos, e sendo aniquilados, falecem inutilmente em uma destruição eterna... Pois aquilo que é visto pelos olhos é somente a separação da alma do corpo, não a aniquilação final: esta, eu digo, é a verdadeira morte do homem, quando as almas que não conhecem a Deus serão consumidas em longo tormento com chamas impetuosas, nas quais determinados seres cruéis e violentos serão banidos, que eram desconhecidos antes de Cristo, e trazidos à luz unicamente por Sua sabedoria”. – Contra os Pagãos, de Arnóbio, Livro II, parágrafo 14.

E posteriormente, no processo de “excomunhão” póstuma de Orígenes, em 553 d.C., a Igreja se manifestou contra uma opinião também considerada aniquilacionista, ao dizer:

 

“Se alguém disser que depois da ressurreição o corpo do Senhor ficou etéreo, tendo a forma de uma esfera, e assim ficarão os corpos de todos depois da ressurreição; e que após o Senhor mesmo ter rejeitado seu corpo verdadeiro e os outros que se levantarão terem rejeitado os deles, a natureza de seus corpos será aniquilada: que ele seja declarado anátema”. – Segundo Concílio de Constantinopla, Anátema nº 10.

 

Portanto, o aniquilacionismo hoje defendido pelas “Testemunhas de Jeová” e outros não é o mesmo que surgiu na Antiguidade. Naquele tempo nenhum cristão acreditava que o homem fosse produto apenas do funcionamento de um corpo carnal, que ao morrer ocasionaria a inexistência da pessoa. Nem tampouco que a ressurreição consistiria em Deus reverter esse estado de inexistência.

 

Para não dizer que nunca houve na história da igreja primitiva o aniquilacionismo materialista, Eusébio de Cesareia relatou no início do século IV um episódio que pode ser considerado a primeira ocorrência do pensamento materialista entre os cristãos. Segundo ele, surgiram na Arábia alguns que defenderam “uma doutrina alheia à verdade”, segundo a qual ‘a alma morre juntamente com o corpo e revive na ressurreição’. Isso aconteceu por volta do ano 230 d.C.

 

Formou-se então um concílio árabe para discutir a questão, e Orígenes foi convidado para ajudar. Os discursos que ele proferiu foram tão fortes e convincentes que, de acordo com Eusébio, ‘conduziram aqueles que haviam se desviado a mudarem completamente suas opiniões’ referentes à suposta extinção da alma quando ocorre a morte do corpo.  O resultado dessa reunião deliberativa demonstra que esse foi um caso isolado sem nenhuma repercussão no cristianismo histórico. O sucesso de Orígenes em dirimir o problema é uma evidência da profunda inconsistência do materialismo “cristão” quando analisado sob o ponto de vista bíblico. Os ouvintes dele foram sensíveis a tal fato. – História Eclesiástica (2002), ed. Novo Século, p. 141; Ecclesiastical History (1850), tradução de Christian Frederick Crusé, pp. 253, 254.

 

Conclusão

Conforme ficou bem demonstrado nas seções precedentes, o conceito da inexistência após a morte é puramente materialista e não é compatível com o pensamento cristão. É por isso que muitos cientistas são ateus, porque para eles a pessoa é consequência apenas dos sistemas biológicos naturais, que se organizaram sozinhos em um processo evolutivo movido pelo acaso. Por este ponto de vista, é óbvio concluir que depois que o corpo humano deixa de funcionar devido à morte, a pessoa deixa de existir completamente. O que sobra é apenas um cadáver. Nada de alma ou espírito.

Conciliar essa ideia com a Bíblia é algo sem precedentes na história do Cristianismo, e somente nos últimos séculos surgiram tentativas nesse sentido, especialmente depois do movimento chamado Iluminismo e mais fortemente no século 19, quando surgiram os adventistas e os russelitas (hoje “Testemunhas de Jeová”). O subproduto desses movimentos se encontra espalhado em várias iniciativas não denominacionais, mediante pessoas que escrevem de maneira independente a favor do aniquilacionismo materialista. É o caso do autor do site Mentes Bereanas, que é um dissidente das “Testemunhas de Jeová”. Ele deixou o movimento, porém levou consigo esse conceito sem base bíblica e que afronta o Cristianismo histórico desde sua origem no século I.

Para um exame mais detalhado do que os primeiros cristãos realmente acreditavam, e que atesta o erro do aniquilacionismo materialista, os artigos abaixo são muito recomendados:

O que a Bíblia realmente ensina sobre a morte (link)

A filosofia grega influenciou mesmo o conceito do Cristianismo sobre imortalidade? (link)

O que ensinaram os escritores cristãos do segundo século? (link)

O verdadeiro conteúdo das advertências apostólicas sobre falsos ensinos (link)

Apropriação indevida da linguagem bíblica (link)

Sobre a “técnica” de distorcer autores patrísticos (link)

“O seio de Abraão”: o paraíso antecipado dos justos (link)

Linguagem materialista não é necessariamente aniquilacionismo (link)

 

 

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